O Projeto de Cidade Republicana:
O Rio de
Janeiro da Belle Époque
Fabio Ferreira
1. Apresentação
O presente artigo aborda as principais características do projeto de cidade republicana no período da Belle Époque, tendo como foco a então capital federal, o Rio de Janeiro, e as mudanças ocorridas na cidade devido à absorção de um modelo estrangeiro, europeu, mas mais especificamente francês, por parte das elites do Brasil, já que o Rio, a época, era a cidade mais importante do país e símbolo do mesmo.
O presente artigo aborda as principais características do projeto de cidade republicana no período da Belle Époque, tendo como foco a então capital federal, o Rio de Janeiro, e as mudanças ocorridas na cidade devido à absorção de um modelo estrangeiro, europeu, mas mais especificamente francês, por parte das elites do Brasil, já que o Rio, a época, era a cidade mais importante do país e símbolo do mesmo.
2. O Rio de Janeiro no limiar do século XX.
No início do século XX – quando novos valores
ganharam força na sociedade brasileira – a cidade do Rio de Janeiro, então
Distrito Federal, era um pólo irradiador de cultura para as outras cidades do
país, era o local onde as novidades européias chegavam em primeiro lugar, para
depois, em alguns casos, adentrarem em outras localidades do Brasil. O Rio era
o que pode ser chamado de porta de entrada do país, além de ser o símbolo da
brasilidade, tanto nacional, quanto internacionalmente.
Nesse período, ser moderno é estar no Rio de
Janeiro e, para obter sucesso em várias áreas, como, por exemplo, na vida
intelectual ou cientifica, pretendente a uma carreira de sucesso deveria estar
na então capital federal.
O Rio vivia uma situação privilegiada, pois na
cidade encontravam-se sedes de várias instituições de grande importância, como
o Banco do Brasil, além de outros bancos nacionais ou estrangeiros, a Bolsa de
Valores e, ainda, o Distrito Federal polarizava as finanças nacionais. O Rio
também era o núcleo da maior rede ferroviária do país, a maior cidade do
Brasil, logo a oferecer mercado consumidor e mão-de-obra as indústrias, além de
na virada do século XIX para o XX, no continente americano, ser o 3º maior
porto em volume de comércio 1.
Todos esses
fatos estão no contexto da Belle Époque 2,
que influenciou várias cidades brasileiras, como, por exemplo, Manaus,
Fortaleza, Recife, São Paulo e Rio de Janeiro. Tal influência ocorreu
especialmente na absorção de valores da cultura européia, principalmente a
francesa, em detrimento da nacional.
(...)
As crônicas cariocas da Belle Époque – que foi o
gênero literário que se impôs nesse período no Rio de Janeiro, tendo como
veículo de difusão os jornais e o maior nome em João do Rio – discutem a
relação entre o progresso e tradição, onde o primeiro – e com ele a
transformação urbana – é entendido inexorável, ao passo que o conceito de
tradição se relaciona com um alerta à consciência nacional para a preservação
dos monumentos do passado da memória e do patrimônio cultural da cidade.
Promover uma industrialização imediata e a modernização do país eram as metas da
nova elite republicana, a ocasionar, como resultado, a entrada de capitais
ingleses e norte-americanos no Brasil e a mais
escandalosa fraude especulativa de todos os tempos no mercado de ações: o
Encilhamento.
A cultura da modernidade predominante na Belle Époque eminentemente
urbana, onde a cidade 3 é
consolidadora de uma nova ordem mundial e se torna, ela própria, tema e sujeito
das manifestações culturais e artísticas.
Na cidade é onde as coisas ocorrem e é o lugar da
construção da modernidade, ou, melhor dizendo, a metrópole é a forma mais
específica de realização da vida moderna.
Dentro dessa visão de modernidade, destaca-se o
programa de reformas urbanas das grandes capitais européias, que seguiram o
grande modelo de cirurgia material e social constituído por Napoleão III, em
que se destacou a figura tirânica de Haussmann, o gestor da Paris burguesa e
monumental surgida entre 1853 e 1870. Tais reformas vieram, anos mais tarde, a
influenciar o Rio de Janeiro, através de uma remodelação urbana que será
abordada nos próximos parágrafos.
3. A Remodelação da Cidade.
Para atender ao modelo de modernidade estabelecido
na época, tornava-se predominante a ação de modificar o aspecto urbanístico das
grandes metrópoles, como afirma Lima (2000, p. 179):
“Desde a segunda metade do século XIX, a idéia que
faziam os governantes da ação urbanística sobre a cidade era primordialmente
solucionar os problemas de circulação e saneamento. Já naquela época, em várias
capitais européias, inspiradas nas obras do Barão de Haussmann, foram
implantados novos projetos de alinhamentos para as ruas existentes, e inúmeras
cirurgias – cortes abruptos do tecido urbano – deram origem a novas
avenidas.
De um lado e de outro dessas vias, foram construídos imponentes prédios destinados a substituir as simplórias e insalubres edificações que ocupavam as áreas a renovar. As desapropriações tornavam-se imprescindíveis e as camadas sociais mais baixas eram virtualmente empurradas pra locais menos nobres, afastadas pelos locais atingidos pelas intervenções.”
De um lado e de outro dessas vias, foram construídos imponentes prédios destinados a substituir as simplórias e insalubres edificações que ocupavam as áreas a renovar. As desapropriações tornavam-se imprescindíveis e as camadas sociais mais baixas eram virtualmente empurradas pra locais menos nobres, afastadas pelos locais atingidos pelas intervenções.”
Para atender às necessidades de modernização da
então capital do Brasil, passadas as conturbações dos primeiros anos do regime
republicano, o governo de Rodrigues
Alves (1903-1907) a aproveitar o momento político favorável e a entrada de
capital, oriunda de empréstimos obtidos junto à Inglaterra no Governo de Campos
Sales (1898-1902), teve a iniciativa de atender às aspirações de uma elite
política desejosa da reforma da cidade do Rio de Janeiro, promovendo um amplo
plano de reforma urbanística.4
Paralelamente a toda essa euforia, há a tentativa de modernização e “europeização”
do Brasil por parte das elites nacionais, mas o país vivia inúmeros
contrastes, que, na opinião dessas pessoas, representavam o atraso, sendo que
tais conflitos estavam presentes na cidade que era o símbolo do Brasil.
Na então capital federal, ocorrem diversas
tentativas de mudar inúmeros hábitos da
população, principalmente as das camadas de baixa renda, e vários dos
câmbios sofridos objetivavam, por exemplo, “civilizar” o carnaval. Vale citar
as tentativas de proibir em tal festa o entrudo; transferir esse evento popular
para o inverno devido às altas temperaturas do princípio do ano; e a medida
mais curiosa, ocorrida em 1909, quando há a
proibição da fantasia de índio, muito usada pelas já citadas camadas mais
desfavorecidas economicamente do Rio de Janeiro. A elite carioca desejava
importar práticas utilizadas no carnaval de Veneza, como as fantasias de
arlequim, pierrô e colombina, pessoas nos automóveis a desfilarem pelas
ruas da cidade, brigas de confetes... Aspectos considerados mais refinados
pelas classes dominantes.
Nesse período há a mudança da vestimenta dos habitantes da cidade, com o abandono da
“tradicional sobrecasaca e cartola (...) para (...) [o] paletó de casimira
clara e chapéu de palha. O importante agora é ser chic ousmart conforme
a procedência do tecido ou do modelo.” 5
Outros hábitos
também condenados são a serenata e a boêmia, sendo o violão associado com a
vagabundagem. As religiões afro-brasileiras e práticas como o curandeirismo e a
feitiçaria, por exemplo, também eram consideradas como sinônimo de atraso,
havendo tolerância com o kardecismo – basta lembrar as origens francesas de
Kardec. Festas populares, como a de Judas e do Bumba-meu-boi, além das barracas
de São João também foram alvo de proibições.
Somam-se às imposições já citadas as perseguições
“[às] barracas e quiosques varejistas; as carrolas, carroções e
carrinhos-de-mão; os freges (restaurantes populares) e os cães vadios” 6 e
a proibição do trânsito de vacas – que seus donos vendiam de porta em porta o
leite desse animal – pela área central após a reforma urbana.
Ao lado de todos os problemas já citados do Rio de
Janeiro da República Velha, como o carnaval considerado pelas elites
não-civilizado, religiões afro-brasileiras, quiosques, entre outros, havia a área central da cidade, insalubre e
colonial, vista pelas elites como resquício de um século passado, da monarquia,
que não obedecia a racionalidade geométrica alguma.
Essa área colonial possuía suas ruas estreitas de traçado irregular,
becos, casario baixo entremeado de alguns sobrados, e a partir da década de
1880, uma tendência direcionou os pobres 7 para as
habitações do centro, e os ricos em direção aos bairros mais ao sul e a oeste.
A população mais pobre vivia pelas avenidas e em cortiços, que eram os antigos
casarões deixados pela burguesia que abandonara o centro para as novas áreas de
expansão da cidade.
Diante dessa área
considerada degradada pelas elites brasileira, feia, imunda, perigosa,
caótica, a identidade urbana do Rio de Janeiro não poderia ser construída. A cidade do desejo negava a cidade real,
então a cidade deveria refletir a imagem de uma urbe higiênica, linda e
ordenada.
Assim, o
discurso higienista não hesitou em apontar as formas populares de moradia
localizadas no centro da cidade como a principal fonte de diversas doenças que
assolavam o Rio de Janeiro da época. O centro era um verdadeiro antro de
doenças, que inclusive maculavam a imagem do país no exterior, e por esse fato
é declarada guerra aos cortiços, que passam a ser cerceados por diversas regras
impossibilitando a construção de novos e a restringir a reforma dos antigos.
Cada vez mais ficava mais nítida a
incompatibilidade da estrutura da velha cidade colonial com as novas formas de
articulação urbana impostas pela nova ordem econômica, deixando aberto o
caminho para a realização das grandes reformas urbanas que viriam a inserir a
cidade e o país nos novos modelos de modernidade predominantes na Europa do
século XIX.
Para resolver tais problemas, Rodrigues Alves, que
assumiu a presidência em 15 de novembro de 1902, aprovou, com o apoio do
Congresso, a Lei 939, que alterou radicalmente a organização municipal do
Distrito Federal, inclusive com o prefeito e seu substituto passando a ser
indicados pelo presidente da República, sem a anuência do Senado.
Como governante da cidade do Rio de Janeiro, Alves
escolheu o engenheiro Pereira Passos,
diplomado em Matemática pela Escola Militar e com curso de Engenharia na
França, que requisitou carta branca para governar o município. Passos iniciaria, a partir de 1903, um
enorme programa de obras, com liberdade de desenvolver um projeto que desse uma
imagem cosmopolita ao Rio de Janeiro, nos moldes de Paris.
As autoridades conceberam um plano em três
dimensões: a modernização do porto, o saneamento da cidade e a reforma urbana.
Um time de técnicos com poderes ilimitados foi então nomeado pelo presidente
Rodrigues Alves; sendo eles o engenheiro Lauro Müller para a reforma do porto;
o médico sanitarista Oswaldo Cruz 8 para o saneamento, e o
engenheiro urbanista Pereira Passos, que
havia acompanhado a reforma urbana de Paris sob o comando do barão de
Haussmann, para a reurbanização da cidade. Os três se voltaram contra os
casarões da área central, porque cerceava o acesso ao porto, comprometia a
segurança sanitária e bloqueava o livre fluxo indispensável para a circulação
numa cidade moderna 9. Iniciou-se, então, o processo de
demolição das residências da área central.
Vale ressaltar que esta demolição e a conseqüente expulsão das camadas
populares sem nenhum plano de apoio, seja através de indenizações em dinheiro
ou da acomodação destes em habitações populares, por exemplo, acabaram tendo
como resultado a incrementação do início do processo de favelização do Rio de
Janeiro. Esses moradores que perderam as suas residências
aproveitavam seus destroços e acabaram por construir habitações a utilizarem as
encostas dos morros e, embora perseguidos na área central, tinham a tolerância
das autoridades nos bairros da Zona Sul e na então distante Copacabana.
O início dessas demolições contou com o apoio de
vários membros da intelectualidade nacional, como, por exemplo, Olavo Bilac.
Sobre a
visão positiva de tal demolição por parte dos intelectuais brasileiros,
Pesavento (1999, p. 183) reproduz a seguinte crônica do citado poeta
parnasiano:
“Há poucos dias, as picaretas, entoando um hino
jubiloso, iniciaram os trabalhos de construção da Avenida Central, pondo abaixo
as primeiras casas condenadas. [...] No abrir das paredes, no ruir das pedras,
no esfarelar do barro, havia um longo gemido. Era o gemido soturno e lamentoso
do Passado, do Atraso e do Opróbrio. A cidade colonial, imunda, retrógrada,
emperrada nas suas velhas tradições, estava soluçando no soluçar daqueles apodrecidos
materiais que desabavam. Mas o hino claro das picaretas abafava esse protesto
impotente. Com que alegria cantavam elas - as picaretas regeneradoras! E como
as almas dos que ali compreendiam bem o que elas diziam, no seu clamor
incessante e rítmico, celebrando a vitória da higiene, do bom gosto e da arte!
(ano 1, nº 3, mar.1904. Kosmos).”
Sobre a revista Kosmos – vale lembrar o papel da imprensa na propaganda a favor desses novos
valores da sociedade brasileira –,
Pesavento (ibid., p.188) comenta:
“A revista
Kosmos criava e difundia uma versão glamourizada da imagem desejada da
elite cultural carioca, a qual se considerava no centro da cena nacional, o que
não deixava de ter correspondência com a realidade cultural brasileira. Como
elite, ela se revestia de autoridade de ‘dizer o país’, dizendo a cidade
transformada.”
4. A Avenida Central
Dentro do projeto de remodelação da área central do
Rio de Janeiro surge a Avenida Central, idealizada por Lauro Muller, como via
de ligação entre o novo cais do porto e a Avenida Beira Mar.
Na Avenida Central, a exemplo do modelo haussmanniano, duas praças
também estariam interligadas, a Praça Mauá – próxima ao novo porto – e a Praça
Floriano (Hoje conhecida por Cinelândia).
Esta obra, criada à imagem dos bulevares franceses, quando foi
inaugurada, em 1904, possuía cerca de 30 edifícios prontos e,
aproximadamente, 90 em construção. Era
um símbolo da modernidade e da busca da identificação do Rio com Paris, ou
seja, culta e asseada, habitada por indivíduos sadios e bem vestidos.
As construções para a Avenida
Central obedeceram às regras estabelecidas em concurso divulgado em 1903, que
previa a destinação obrigatória dos pavimentos térreos a um comércio de luxo e
estilo de arquitetura que fizessem os prédios do Rio de Janeiro semelhantes aos
de Paris.
A inauguração trouxe entusiasmo para diversas
pessoas, valendo citar mais uma vez como exemplo o parnasiano Bilac, que
escreve, como demonstra Pesavento (ibid., p.184), a respeito da nova via
carioca:
“Inaugurou-se a Avenida. Parece um sonho... Onde
estás tu metido, Carrancismo ignóbil, que por tanto tempo nos oprimiste e
desonraste? Em que furna lôbrega, que socavão escuro te foste esconder
envergonhado? Em vão te procurei, nestes últimos dias e nestas últimas noites
de novembro, pela radiante extensão da Avenida formosa [...]. Andas, com
certeza, homiziado nos becos sujos, em que se mantém ainda a tradição do mau
gosto e da imundície: afugentou-te a luz da Avenida, horrorizou-te a alegria do
povo, fulminou-te o despeito.(Kosmos, ano 2, nº11, abr.1905)”
Entusiasmado também ficou o escritor português
Manoel de Souza Pinto, em sua passagem pelo Rio, conforme cita Pesavento
(ibid., p. 182):
“O Prefeito Passos é, presentemente, o nome mais
sabido, mais repetido, mais criticado e mais elogiado do Rio de Janeiro. É para
alguns um deus, e a nova cidade deve-lhe um profundo culto. Para outros, é o
extermínio, o carrasco inexorável, um espectro pavoroso. Parece-me, contudo,
que todos concordam em que, com todos os seus indispensáveis defeitos e as suas
superiores qualidades, é um grande homem. É, pelo menos, o homem do dia, há
muitas semanas. (apud Brito Broca, A vida, p.265.)”
As observações do escritor luso demonstram que as
ações de Pereira Passos e a “europeização” da cidade não contavam com a
unanimidade da população e dos cronistas da época.
Assim, um
dos críticos desse modelo importado é Lima Barreto, conforme cita Pesavento
(ibid., p. 216):
“A Bruzundanga, como sabem, fica nas zonas tropical
e subtropical, mas a estética da escola pedia que eles se vestissem com pele de
urso, de renas, de martas e raposas árticas. É um vestuário barato para os
samoiedas autênticos, mas caríssimo para os seus parentes literários dos
trópicos. Estes, porém, crentes na eficácia da vestimenta para a criação
artística, morrem de fome, mas vestem-se à moda da Sibéria.(Lima Barreto, Os
bruzundangas, p. 26).”
Pesavento ainda cita que, (ibid, p.218):
“É ainda, por esse aspecto de fachada e de montagem
de um cenário teatral, que Lima Barreto aprecia a transformação do Rio de
Janeiro. Caricaturando a figura do Barão do Rio Branco e sua ascendência sobre
o presidente do país – o “mandachuva” –, Lima Barreto escreveria em Os
bruzundangas:
Convenceu-se de que devia modificar radicalmente o
aspecto da capital. Era preciso, mas devia ser feito lentamente. Ele não quis
assim, e eis que Bruzundanga, tomando dinheiro emprestado, para pôr as velhas
casas de sua capital abaixo. De uma hora para outra, a antiga cidade
desapareceu e outra surgiu, como se fosse obtida por uma mutação de teatro.
Havia mesmo na coisa muito de cenografia (ibidem, p.73)”
5. Conclusão.
O conjunto de obras promovido naquela ocasião, não buscava somente o
aspecto arquitetônico, mas também expulsar a população pobre do centro da
cidade. Visava eliminar a pobreza e dar visibilidade ao modernismo europeu para todos aqueles que circulavam por lá, como, por exemplo, aqueles
que chegavam ao Brasil pelo porto localizado na Praça Mauá e iam para a área
nobre da cidade, e ainda, para a elite local, que ao sair da zona sul para ir
ao exterior, utilizava-se do mesmo porto, tendo que transitar pela área
central. Tais mudanças, que objetivavam
a eliminação das camadas desfavorecidas e dar um visual europeu a essa área do
Rio de Janeiro, era o anseio daqueles que comandavam o plano de remodelação da
cidade.
O traçado
largo (inclusive com uns metros a mais que determinada via de Buenos Aires,
somente por competição com a capital argentina e, assim, para bradar que a
avenida brasileira era mais larga ),
seus jardins e edificações, a organização espacial e os prédios do Teatro
Municipal, Biblioteca Nacional, Escola de Belas Artes, e dos Poderes
Legislativo e Judiciário deram também
importância e caracterizaram a Avenida Central como marco importante da
Belle Époque no Rio de Janeiro. Além disso, propiciou um verdadeiro desfile de modas, com a população exibindo
vestimentas de estilo europeu.
No entanto, a Avenida Central e a sua extremidade
sul, a Praça Floriano, não dissimulara a um olhar mais atento a verdadeira
formação heterogênea, pobre e mestiça da população carioca, que ali continuou a
interagir e, ainda, em pouco tempo, ficava à mostra de quem por ali passava, os
barracos da Favela da Providência e do morro de Santo Antônio.
Assim, nos primeiros anos do século XX, os valores
da sociedade brasileira, ao menos os de sua elite, estavam a mudar, e muitas
dessas mudanças refletiam no espaço urbano, principalmente no do Rio de
Janeiro, principal cidade do país na época. O país tentava modernizar-se a qualquer custo; livrar-se do passado
monárquico e colonial, sempre associados ao atraso; importar um modelo cultural
europeu, mais precisamente francês; atrair investidores ingleses e
norte-americanos; e, por fim, ter a própria cidade, ter o espaço urbano como
símbolo de modernidade, em oposição ao espaço rural, atrelado ao atraso.
6. Fotos Ilustrativas
Abaixo, Teatro Municipal do Rio de Janeiro, inspirado no Opéra de Paris.
Em frente ao teatro carioca, a Praça Floriano (Cinelândia), e a direita a Avenida Rio Branco, que hoje pouco possui do seu aspecto original francês.
Em frente ao teatro carioca, a Praça Floriano (Cinelândia), e a direita a Avenida Rio Branco, que hoje pouco possui do seu aspecto original francês.
7. Notas
1 - SEVCENKO, Nicolau.Literatura como missão:
tensões sociais e criação cultural na Primeira República. Brasília: Brasiliense
1983, p.27.
2 - A Belle Époque ocorreu nos países desenvolvidos da Europa e nos Estados Unidos entre a última década do século XIX até cerca de meados do XX, ocasião em que houveram intensas transformações, a modificar hábitos, convicções e modos de percepção em todo o mundo. Momento de grande glorificação da capacidade do homem em dominar a natureza e modificar o mundo através da sua ação, inclusive pelo uso das novas tecnologias .
3 - A variedade de produtos e equipamentos e a
velocidade com que as inovações invadiram o cotidiano das pessoas
caracterizaram essa época, que assistiu a novidades como novos meios de
transportes, a eletrificação, indústrias químicas, controle de doenças... Todos
estes fatores estavam a alterar profunda e irreversivelmente a sociedade de
então. Por volta de 1900 o poder da tecnologia estava muito além do que
qualquer outro século jamais sonhara. Não havia precedente histórico para o que
se passava, que despertou uma espécie de otimismo.
4 - Que segundo Sevcenko (1983, p.32), ao abordar o
caso brasileiro, mostra que para a nossa intelectualidade a sociedade passou a
dividir-se em dois blocos antagônicos: o urbano e o rural.
5 - Vale citar que no período imperial, mais
precisamente no segundo reinado, houveram diversos planos formulados para
ordenar a ocupação do espaço urbano, porém, tais planos malograram.
6 - Mesmo diante de tal fato, foi nesse período que
surgiu a Comissão de Melhoramentos da cidade do Rio de Janeiro, primeiro plano
mais abrangente para a reforma urbana, quando o governo imperial promoveu uma
política que visava à modernização da capital brasileira, influenciada pela
reforma bem sucedida do Barão de Haussmann em Paris. A Comissão foi formada em
1874 para a organização de um plano global de reforma urbana da cidade. Seu
objetivo era o de combater as constantes epidemias que assolavam o Rio de
Janeiro, através de um novo planejamento urbano. Pereira Passos, que na época
das reformas de Haussmann estava a completar seu aperfeiçoamento como
engenheiro na École dês Ponts et Chaussées, participou da citada comissão.
Entretanto, o projeto não saiu do papel.
7 - SEVCENKO, Nicolau.Literatura como missão:
tensões sociais e criação cultural na Primeira República. Brasília: Brasiliense
1983, p.31.
8 - op. cit., p.33
9 - A maioria desses habitantes eram negros extremamente
pobres, e que além de se concentrar nos antigos casarões degradados localizados
no centro da cidade, também viviam nas áreas ao redor do porto.
10 - Naquele momento, a gestão da saúde pública
revestia-se de especial importância, uma vez que o novo governo comprometera-se a sanear a capital, que devido a uma
série de doenças, como a febre amarela, a varíola e a peste bubônica, estavam a
comprometer a política de estímulo à imigração estrangeira e a acarretar
enormes prejuízos à economia nacional, dado que os navios que atracavam na
capital eram submetidos a freqüentes quarentenas. A reforma sanitária foi
confiada a Oswaldo Cruz. Em
maio de 1903, o projeto de lei relativo ao assunto começou sua lenta tramitação
no Congresso, sendo duramente combatido pela oposição. O novo regulamento
sanitário somente seria aprovado em janeiro de 1904, mesmo assim, bastante mutilado.
Isso não impediu que Oswaldo Cruz desencadeasse, já em abril de 1903, a campanha contra a febre amarela e, no começo de 1904, o combate à peste bubônica. Em 1906, ao encerrar-se o mandato de Rodrigues Alves, as estatísticas de mortalidade e morbidade dessas doenças testemunhavam o êxito das campanhas.
Sua derrota se deu no combate à varíola, travado em 1904. A suspensão da lei que determinara a obrigatoriedade da vacinação anti-variólica após a Revolta da Vacina – que durante uma semana levou milhares de pessoas a saírem às ruas do então Distrito Federal para protestar, enfrentando forças da polícia e do exército e que como saldo, segundo os jornais da época, teve 23 mortos, dezenas de feridos e quase mil presos – faria sentir seus efeitos em 1908, quando violento surto da doença assolou a capital.
Isso não impediu que Oswaldo Cruz desencadeasse, já em abril de 1903, a campanha contra a febre amarela e, no começo de 1904, o combate à peste bubônica. Em 1906, ao encerrar-se o mandato de Rodrigues Alves, as estatísticas de mortalidade e morbidade dessas doenças testemunhavam o êxito das campanhas.
Sua derrota se deu no combate à varíola, travado em 1904. A suspensão da lei que determinara a obrigatoriedade da vacinação anti-variólica após a Revolta da Vacina – que durante uma semana levou milhares de pessoas a saírem às ruas do então Distrito Federal para protestar, enfrentando forças da polícia e do exército e que como saldo, segundo os jornais da época, teve 23 mortos, dezenas de feridos e quase mil presos – faria sentir seus efeitos em 1908, quando violento surto da doença assolou a capital.
11 - Sobre as concepções de cidade, a moderna visa a
circulação rápida. No Rio de Janeiro pode-se citar vários exemplos, sendo eles
de diversos períodos da história, como a já citada Avenida Central, que mesmo a
objetivar a circulação rápida, de um ponto ao outro, havia espaço para a
socialização; a Presidente Vargas, construída na década de 1940, também voltada
para circulação, porém a visar pouca convivência entre os habitantes da cidade
nesse espaço; e, por fim, a Avenida Chile, dos anos de 1960, que visava
praticamente nenhum pedestre e nenhuma socialização e, sim, muitos automóveis.
Outro caso é o de Brasília, inaugurada em 1960, e construída nessa lógica da
rápida circulação através de veículos motorizados, onde o objetivo é o
deslocamento através desse meio de transporte.
8. Bibliografia e Sítios Consultados
BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos: um
Haussmann tropical. Rio de Janeiro: Biblioteca Carioca, sd.
HISTÓRIA DA VIDA PRIVADA NO BRASIL. v. 3. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998.
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Rio de
Janeiro: José Olímpio, 1983.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. O Imaginário da Cidade:
visões literárias do Urbano – Paris, Rio de Janeiro, Porto Alegre. Porto
Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1999.
SEVCENKO, Nicolau. A capital irradiante: técnica,
ritmos e ritos do Rio. In: História da Vida Privada no Brasil, v. 3. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998.
__________________. Literatura como missão: tensões
sociais e criação cultural na Primeira República. Brasília: Brasiliense 1983
http://www.fiocruz.br/coc/fiooc1.html
http://www.historianet.com.br/main/conteudos.asp?conteudo=173
http://www.prossiga.br/oswaldocruz/
http://www.fiocruz.br/coc/fiooc1.html
Questões
discursivas que podem
ser trabalhadas em aula e em grupo
1- Qual foi o modelo de cidade inspirado por Pereira Passos e pela elite carioca projetado na reforma urbana da cidade do Rio de Janeiro ?
2- Qual foi a importância do
discurso higienista para legitimar ( dar apoio) as ações da reforma urbana empreendida por
Pereira Passos ?
3- Que relações o autor aponta
entre a reforma urbana de Pereira Passos e o processo de favelização do Rio de
Janeiro ?
4- Elementos da cultura popular
eram tidos como símbolos do atraso pela elite carioca do inicio do século XX .
O autor oferece alguns exemplos de elementos dessa cultura. Quais eram ?
5 - Que conclusões o autor chega ao final do texto sobre a Reforma Urbana no Rio de Janeiro realizada por Pereira Passos ?
5 - Que conclusões o autor chega ao final do texto sobre a Reforma Urbana no Rio de Janeiro realizada por Pereira Passos ?